Locução natural: aprenda o que o mercado pede

Locução natural: aprenda o que o mercado pede

Locução natural é o que o mercado tá pedindo agora, mas será que veio pra ficar?

Oiii, como que vc tá hoje?

Quem me acompanha nas redes sociais sabe que eu vivo falando sobre locução natural e conversada e o quanto é importante dominá-las pra se dar bem no mercado da voz. 

Por isso, hoje eu resolvi escrever um pouco sobre esse tipo de locução. Eu também quero te contar algumas coisas essenciais para você conseguir chegar nela sem muita dificuldade ?

Então vem comigo nessa leitura se quiser sair daquilo que acha ser “natural” e fazer uma locução natural de verdade.

O caminho da locução natural

Pra que a você comece a entender o caminho da locução natural é interessante perceber algumas coisas. 

Por isso, neste post ou vou tratar 3 delas, mas antes disso, você precisa internalizar uma espécie de mantra que vai se repetir toda vez que receber um trabalho:

Eu não sou apenas o(a) locutor(a) desse texto. 

Então, quem sou eu?

Você precisa se repetir isso porque esse texto não foi feito apenas para ser lido por qualquer pessoa. Você precisa entrar nele, fazer parte desse texto e, para isso, você tem um caminho de aprendizagem anterior. 

O primeiro passo dessa aprendizagem é entender isso:

#1 A locução tradicional não é um problema…

Tampouco um erro! 

Por muito tempo, ela dominou o mercado da voz. É muito difícil encontrar alguém que não pense diretamente naquela voz carregada de radialista quando ouve falar de locução.

Até hoje a locução tradicional ainda é solicitada em alguns trabalhos; ainda existe mercado pra ela. 

locução de rádio é menos pedido que locução natural

O que eu sempre friso é que a locução natural e conversada é a MAIS solicitada atualmente.

Mas isso não exclui que o mercado esteja aberto para todo tipo de locução, seja ela mais leve, mais pesada, mais “jogadinha”, ou mais coloquial etc.

O mercado está aberto pra todo tipo de locução, só se sai melhor quem domina a locução mais solicitada e quem domina mais tipos de locução também.

Mas não se engane, não é porque a tradicional ainda é solicitada que ela seja a aposta do futuro desse mercado.

Sabe como o mercado tecnológico tem crescido exponencialmente, né!? Pois então, quanto mais esse mercado avança, mais o mercado da voz se expande junto.

Imagine se a gente alcançasse um nível tecnológico muito alto e as vozes utilizadas nos aparelhos e máquinas fossem robóticas; seria horrível, não!? A gente sentiria falta de características humanas.

A voz humana

Se você acha que não é bem assim, reflita um pouco:

Tudo o que o ser humano cria para “ter vida” recebe características humanas; isso se chama humanizar.

Nos filmes de ficção-científica, as máquinas e robôs recebem características humanas, mas, muitas vezes, mantém-se aquela voz robótica para que a gente sempre se recorde que “aquilo” não é uma pessoa. Quando isso acontece, é intenção do roteiro não criar uma identidade entre espectadores e máquinas.

Mas olha o exemplo de Person of Interest:

Essa série foi exibida pelo canal estadunidense CBS entre 2011 e 2016 e conta a história de um programa desenvolvido para o governo dos EUA que prevê atentados terroristas (a Machine).

Mas essa máquina ainda prevê crimes violentos que envolvem pessoas normais, como você e eu. Tudo isso através de espionagem, claro, mas não é esse o nosso tema.

A questão aqui é que a Machine entra em contato com seu criador através de telefones públicos e sempre usa um misto de vozes humanas, que ela capta através da espionagem.

Machine de Person Of Interest

Mas no desenrolar a história, muitas coisas acontecem e esse programa acaba se desenvolvendo para uma inteligência artificial autoconsciente. 

Com isso, a própria tecnologia percebe que precisa de uma única voz humana pra conseguir interagir melhor com os seres humanos através de uma espécie de “identidade própria”

A própria tecnologia se dá conta disso, mas tem um monte de gente achando que voz de robô continua representando o futuro.

Okay, no caso de Person of Interest apenas a voz humana é adotada porque o programa não tem uma “entidade” propriamente dita. 

Mas e os inúmeros casos de canais como Disney e Cartoon Network, por exemplo?

Humanização para além da voz

Eu poderia passar horas escrevendo exemplos de filmes e desenhos animados que vão além do uso da voz quando buscam humanizar algum objeto.

Em Adventure Time, por exemplo, diversos seres recebem característica humanas. A Princesa Caroço, que é só um monte de caroços, tem olhos, boca, braços, roupas (em algumas situações), sentimentos e humores. 

Princesa Caroço

A voz dela não é considerada bonita, pois é uma voz mais masculina em uma princesa, mas encanta o público que faz dela uma das personagens mais queridas.

Em The Amazing World of Gumball, a Anaís (irmã do protagonista) recebe as mesmas características humanizadas e uma voz mais infantil. Ela é uma coelha, mas parece humana.

Anaís

No recém lançado filme do Sonic, o próprio Sonic que é um porco-espinho recebe a voz e características humanas.

sonic

Mas o que todos eles têm em comum? Nenhum deles é humano. No entanto, o público precisa se identificar com eles para que haja alguma interação e desejo de continuar consumindo aquele produto.

E isso é atingido através dessas características humanizadoras. A voz humana é o principal elemento porque, muitas vezes, a estética do personagem nem lembra uma pessoa, mas pela voz a gente passa a se identificar com ele.

É por isso que eu sempre afirmo e reafirmo: o mercado da voz tá em crescente expansão e nunca vai deixar de crescer. São vários os ramos da indústria que necessitam criar esse vínculo entre seu produto e seus clientes.

E o futuro…

E olhando pra esse cenário, qual tipo de locução parece ser o que mais tem ganhado destaque e representa o futuro do mercado da voz? 

Claro, a locução natural e conversada. Ela já é a porta de entrada pro ramo da dublagem. Mas não se engane, eu tô falando disso porque podemos comparar esse tipo de locução com dublagem.

Afinal, na dublagem também tem interpretação, alteração de tons, conversa mais “jogadinha” etc. Mas, para fazer dublagem é preciso ter registro de ator ou atriz; tem curso pra isso, não é um bicho de sete cabeças. Só quero registrar mesmo que fazer locução natural não te transforma em dublador automaticamente.

#2 Desenvolva a sua audição

Essa é a segunda coisa que você precisa aprender nesse caminho para a locução natural. Mas desenvolver a audição não significa apenas aprender a ouvir os outros, é ouvir a si mesmo(a).

Às vezes, a gente tá crente que tá fazendo a locução certa, mas não tá! E nesse processo de não saber que tá fazendo errado, a gente perde um monte de clientes que sabem diferenciar o que é uma locução natural.

Se você não tiver certeza se está fazendo certo e não tiver alguém que possa ouvir e dar um feedback, você pode comparar pra ter uma ideia. Busca o áudio de alguém que você sabe que já faz isso e veja se o que você está fazendo é parecido, se tem as nuances que aquele áudio tem.

desenvolva a audição para a locução natural

Eu não to dizendo pra você copiar o áudio da outra pessoa, mas sim perceber se o seu natural soa como o da outra. No meu canal do YouTube, tem uma Playlist de trabalhos feitos que vc pode usar de referência se quiser.

Com o tempo, o nosso ouvido se acostuma naturalmente e a gente deixa de precisar comparar ou ter que mandar pra outra pessoa.

O “pulo do gato” pra saber se você tá no caminho certo é perceber se a sua locução acontece da forma como a gente se comunica normalmente. Se ela não soa como uma conversa normal, você precisa treinar mais.

E se a locução que você tem de referência tampouco soa como uma conversa natural, isso significa que você precisa de outra referência.

O que compõe a locução natural?

Antes de ver os cuidados que precisamos ter, vamos ver o que compõe uma locução natural.

Nesse tipo de locução, o que mais se busca é a fluidez e o ritmo da “conversa”. O texto inteiro precisa estar bem conectado, sem pausas desnecessárias e sem preciosismos. 

Note que eu disse “sem pausas desnecessárias” porque, obviamente, existem as pausas que foram planejadas no texto. Por preciosismo eu digo aquela ênfase que muita gente dá a algumas palavras.

Geralmente, ele aparece no final de frases. Olha essa frase: 

“Você pode levar hoje e pagar quando quiser!”

Com preciosismo ela seria pronunciada assim: 

“Você pode levar hoooje e pagar quando quiseeeeer”. 

Essa ênfase não aparece na nossa fala natural, então por que apareceria na locução natural e conversada?

Outro elemento bem comum desse tipo de locução é a falta de algumas letras na hora de pronunciar. É como se a gente engolisse essas letras, e os “erres” e “esses” são as mais comuns. Olha só:

“Você pode pegá e pagá quando quisé!” 

Vamo lá, amiga!”

Nessas duas frases, os “s” e “r” de final de palavras somem naturalmente. Mantê-los causaria uma estranheza em quem escutasse, como se houvesse uma tentativa de uma locução mais formal.

Isso refletiria em um áudio mais flat. Eu vou falar bem rapidamente sobre o flat, mas é importante você entender que flat” é um termo bem amplo. Ele tem significados de acordo com a área. Na produção é uma coisa e no “meio dos locutores” é outra. 

Mas vamos lá: no nosso caso, o flat representa uma linguagem mais padronizada (que mantém o som de todas as letras) e mais linear (sem alterações de tons). Na nossa frase de exemplo, a representação do flat não geraria qualquer alteração:

“Você pode levar hoje e pagar quando quiser!”

Sotaques e interpretação

Um aspecto que a gente precisa cuidar é o sotaque. Eu tô aqui falando de locução natural e conversada, sobre parecer uma conversa do dia a dia, mas é preciso ter um cuidado com isso. 

Por mais que se tente reproduzir esse falar cotidiano, geralmente se pede uma suavização de sotaques quando o trabalho é de nível estadual ou nacional. Se o trabalho é pra uma cidade ou região específica, isso não é um problema, pois ocorre a identidade entre o público e locutor(a).

Mas um trabalho com maior veiculação geográfica encontra diferentes tipos de sotaques. Por isso, o que se costuma pedir é uma suavização do sotaque pra que o trabalho tenha uma linguagem mais “padrão”, ou seja, que converse com um público maior.

Você pode pensar que não consegue suavizar o sotaque, mas consegue sim, existem exercícios pra isso. Você pode, inclusive, aprender outros sotaques pra se jogar em outros mercados regionais. 

Eu mesma tenho um sotaque forte, aquele do interior que puxa o “r”, eu falo porrrrta, corrrta, torrrta, mas eu consegui suavizar isso e aprender outros através de exercícios próprios pra isso. 

aprenda a interpretar personagens

Já numa interpretação de personagem, o seu sotaque pode ser solicitado. Você consegue imaginar uma pessoa de Florianópolis que fala “leitchi quentchi” fazendo um trabalho que pede um sotaque que diga “leiTe quenTe”? 

Isso é possível se a pessoa se dedicar a suavizar o seu sotaque e aprender outros. Pro mercado local da nossa cidade, sotaque é importante pra criar uma identificação com o público, como eu já falei, mas fora desse cenário, só mesmo em interpretações.

Você pode ter que interpretar personagens que têm sotaques específicos, e se você souber interpretar essa variante da língua, pode concorrer pelo trabalho. Especializar-se é sempre o melhor caminho, e isso só agrega valor ao seu trabalho.

Você sabe com quem está falando?

E já que estamos falando de interpretação, temos que considerar outro aspecto importante: pra quem interpretamos.

Eu não só preciso interpretar, como preciso entender quem é o(a) receptor(a) da mensagem. Vc já parou pra reparar como o nosso discurso muda no dia a dia?

A gente fala com os nossos pais de um jeito, com os filhos de outro, com a polícia de outro, e com nossos amigos de outro… se é assim, com certeza isso recai sobre a locução também, né!?

Entender quem pra quem estamos falando é fundamental pra conduzir a locução. Pode ter certeza que a locução natural e conversada vai se alterar de acordo com o público esperado.

Você não vai fazer o mesmo natural em propagandas de tênis esportivos voltados pra jovens esportistas e seguros saúde pra pessoas mais idosas. Cada público tem sua forma natural de conversar

E entender isso vai agregar ainda mais valor no seu trabalho, e te fazer sair na frente de muita gente que não entende as alterações no discurso. 

Treine seu ouvido

O mais importante em treinar o ouvido é saber perceber diferentes tipos de locução. Se é flat, se é carregada, se é natural, se é conversada etc. Mas isso vem com o tempo e muita prática, não se preocupe se ainda não conseguir perceber de primeira.

A palavra-chave desse tipo de locução é “fluidez”. Então treine seu ouvido pra aprender a perceber se um áudio está fluindo ou não, se está com altos e baixos, se tem pausas desnecessárias e se corresponde àquilo que o(a) cliente solicitou.

#3 Aprenda como se portar na frente do microfone

Se você me acompanha nas redes sociais, com certeza já me ouviu falando que o microfone é o ouvido do seu espectador. E você não precisa gritar com o seu espectador.

não grite no microfone, isso não é locução natural

A função do microfone é captar os sons, então você pode falar normalmente que ele vai captar o seu trabalho. 

Mas gritar é só uma das coisas que eu vejo locutores fazendo errado na frente do microfone. Postura é outra delas.

Eu já falei disso em um e-mail, mas eu vou tentar resgatar isso e trazer pro blog. A questão por enquanto é: nosso corpo é responsável por 94% da nossa comunicação, enquanto a voz apenas 6%. O que isso significa?

Que a nossa postura muda completamente os sons que saem da nossa boca. E com postura eu me refiro também às gesticulações que a gente faz.

A forma como a nossa mão gesticula determina a cadência da fala, a posição dos pés condiciona se a fala sai de uma posição de ataque ou não… tudo isso reflete na voz. E você pode pensar que não tem como perceber isso, mas se engana se pensa assim.

Uma pessoa leiga pode não perceber, mas quem trabalha com isso percebe como o áudio foi gravado. Um(a) profissional sabe exatamente como a gente realiza o trabalho só de escutá-lo. 

Por isso, a preocupação com como se portar é fundamental. 

O que mudar?

Se é o seu caso gravar sentado, pare! Grave em pé, isso libera o seu diafragma e te permite ter mais ar pra um trabalho mais fluido.

Entenda que tipo de gesticulações o texto te pede e passe a usá-las. Isso vai fazer a sua voz corresponder e entregar melhor as sensações que o texto deve provocar.

Tire seu microfone de perto do computador

compre um cabo longo para o microfone

Compre um cabo longo e, de preferência, grave em um cômodo diferente daquele onde está o computador. O microfone consegue captar os ruídos do computador e arruinar o seu trabalho.

Isso são só algumas coisas básicas, tem muito mais coisas que podem ser melhoradas, mas eu vou deixar que você acompanhe isso nos conteúdos que eu faço com o Jeff.

Até aqui eu expliquei 3 aprendizados essenciais que você precisa internalizar pra entrar no caminho da locução natural. Agora eu quero entregar umas dicas de como ler um texto de forma natural.

Lendo de forma natural

Nesse mercado, a gente não pode ler o texto como se estivesse lendo qualquer coisa. A leitura natural pede interpretação. Isso significa:

  • entender as intenções do texto;
  • o que o cliente quer transmitir através dele;
  • entender quais emoções podem ser utilizadas durante o texto e
  • talvez, até o que o autor estava pensando pra escrevê-lo.

Através disso, você consegue entregar a melhor interpretação possível. O segredo de uma boa locução natural, então, é: 

  • fazer locução sem parecer locução;
  • interpretando bem o personagem;
  • entendendo pra quem vc tá interpretando;
  • interpretando o texto corretamente e
  • sem parecer que tá lendo um texto.

É isso que vai fazer a sua locução parecer natural e conversada.

Sem isso, não importa a qualidade dos equipamentos que você tenha. Equipamento bom não salva locução ruim!!!

Pra você se vender como locutor(a), a sua locução precisa ser boa de verdade. E isso, você só alcança com muito treino e muito feedback. Não adianta ter voz bonita, “saber conversar” ou fazer uma locução “mais jogadinha”. 

Locução natural e conversada se nota de longe e ninguém consegue enganar cliente se não sabe, de fato, fazer ela. E se você tá querendo aumentar a sua carteira de clientes, é nela que deve investir seu tempo!

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Beijo e boraaaa! ?

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